RIOS VOADORES: A INTERAÇÃO ENTRE FLORA E ÁGUA!
Patrique Savi; Dr. Jairo Marchesan.
O
Brasil, por ser um país tropical, é privilegiado pela disponibilidade de água em
quantidade, boa insolação e de extensas áreas com terras férteis.
Paralelamente, é detentor de grandes e importantes biomas e, consequentemente,
de uma das maiores biodiversidades do Planeta. Por estas e outras
características naturais, também se diferencia como lugar estratégico para a
produção de alimentos; as florestas, por exemplo, contribuem, desde o sequestro
de carbono da atmosfera, até a distribuição das chuvas. A transpiração das
florestas (liberação de água em seu estado gasoso), também auxilia na formação
das nuvens e posteriormente das chuvas. A Floresta Amazônica, por exemplo,
contribui significativamente para a formação de nuvens de chuva que se espalham
por diversas áreas do Brasil, levando águas que abastecem reservatórios superficiais
e subterrâneos.
Evidentemente,
os oceanos constituem-se como a fonte primordial de água do Planeta. A água que
dele evapora, - decorrente da energia térmica fornecida pelo sol -, é
direcionada para o continente por meio das correntes de ar, denominados Ventos
Alísios. Essa água, no estado gasoso, ao passar sobre o continente, perde calor,
condensa e, posteriormente, cai em forma de chuva, irrigando o solo e
recarregando os lençóis subterrâneos. No caso da Floresta Amazônica, pelo fato
de possuir bilhões de árvores, o processo de transpiração ocorre de forma intensa,
"devolvendo" ou reabastecendo a atmosfera com vapor d'água. O
mecanismo de produção de vapor se dá pelo "bombeamento" de água pelas
raízes das árvores, retirada do lençol subterrâneo - em torno de 50 a 60 metros
abaixo do solo. Essa água abastece a árvore e o excedente é liberado na forma
de vapor. Estudos feitos pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(INPA), indicam que uma árvore adulta e frondosa, com uma copa em torno de 20
metros de diâmetro, consegue colocar mais de 1000 litros de água/ dia na
atmosfera. Em toda a Floresta Amazônica o volume chega a 20 bilhões de
toneladas de água diariamente. Esse volume de água que evapora chega a ser
superior ao volume de água que o Rio Amazonas, o maior em volume de água do
mundo, drena diariamente pelas áreas onde passa e devolve ao Oceano Atlântico.
O
processo de transpiração acontece por meio dos estômatos, - pequenas aberturas
existentes na epiderme das folhas das árvores; esses estômatos regulam a
liberação de água da planta. É um processo análogo ao suor produzido pelo corpo
humano.
Todo
esse vapor - evaporação da água mais a transpiração das plantas -, é direcionado
por meio das correntes de ar para as regiões mais ao Sul do Continente
Americano. A Cordilheira dos Andes funciona como uma barreira para os Rios
Voadores, desviando o seu fluxo para alguns países, como Bolívia, Paraguai e
Brasil. Parte da água precipita nas encostas a leste da cadeia de montanhas,
formando as cabeceiras dos rios amazônicos. No Brasil, os estados de Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e
Rio Grande do Sul são abastecidos com águas das chuvas provenientes da Floresta
Amazônica, trazidas pelos Rios Voadores. Portanto, grande parte da produção de
alimentos e de energia dessas regiões decorre da água trazida da Amazônia por
meio dos Rios Voadores.
Um
fato impressionante, e que envolve os Rios Voadores, é a questão da irrigação
de áreas em médias latitudes e que normalmente seriam áridas, análogas a
desertos. As médias latitudes do Planeta Terra, compreendidas entre 30° e 60°, tanto
para sul, quanto para norte, abrigam alguns dos maiores desertos do mundo. O
Kalahari e o Saara, que englobam vários países do Continente Africano, o
Deserto da Arábia, que engloba vários países do Continente Asiático, o Atacama,
no Chile e no Peru, o Outback, na Austrália e o Sonora, no México e Estados
Unidos da América. Quanto mais afastadas da Linha do Equador, que divide o Planeta
Terra nos Hemisférios Norte e Sul, maiores serão as latitudes. Há uma
explicação para a existência dos desertos nesses locais: na região da linha
equatorial existe um fenômeno conhecido como Circulação de Hadley. Nesse
fenômeno, o vento quente e úmido sobe na região equatorial, em função da maior
presença de energia solar. Esse vento, durante a subida, perde umidade e se
direciona para as latitudes médias. Nas latitudes médias, já como vento frio e
seco, ele desce novamente e captura umidade da superfície. Por isso é que nas
latitudes médias estão localizados os maiores desertos do Planeta, justamente
pela presença de ar seco, o que diminui, ou praticamente anula as
precipitações.
No
entanto, na América do Sul, na latitude de 30°, não existe a ocorrência de
desertos, contrariando o que acontece em outros locais de mesma latitude, nos
outros continentes. Pesquisas mostram que a Floresta Amazônica, a grande responsável
pela não ocorrência de um grande deserto nessas áreas, justamente pelo fato de
dar origem aos Rios Voadores que se deslocam até essa latitude, irrigando
diversos países e não favorecendo a ocorrência de um clima árido. Um dos
estudiosos do tema é o Dr. Antônio Donato Nobre, o qual utiliza o termo
"Paradoxo da Sorte" para descrever essa situação. Para ele, toda água
trazida pelos Rios Voadores possibilita a realização das mais diversas atividades
econômicas, industriais ou agropecuárias, além do abastecimento humano das
grandes cidades. Enfim, os Rios Voadores dão condições para o estabelecimento
da vida nesses locais.
Porém,
uma situação, que na verdade é um problema contemporâneo, está afetando a
produção de água pela Floresta Amazônica: o desmatamento. É consenso entre os cientistas
que a substituição de florestas pela agricultura e pecuária extensiva ocasionará
alterações significativas no clima da América do Sul. O avanço cada vez mais
proeminente do agronegócio na Floresta Amazônica põe em risco a própria
atividade econômica nas regiões mais ao sul do país, ao passo que grande parte
do abastecimento de água será afetado, devido ao enfraquecimento dos Rios
Voadores. Isso poderá afetar gravemente a produção de cereais, indispensáveis
para a alimentação humana e animal. No entanto, outros setores ainda poderão ter
impactos na diminuição da oferta de água, como as indústrias e a produção de
energia elétrica; a limitação hídrica diminui a produção, influenciando toda a
cadeia de consumo.
Vale
destacar que a expressão "Rios Voadores" é metafórica. Segundo Dr.
Antônio Nobre, o termo meteorológico para este fenômeno de deslocamento de água
na atmosfera é denominado “Jatos de Baixos Níveis” ou "Dança da Chuva".
No entanto, seja qual for a denominação utilizada, o que fica de importante
nisso é a necessidade de proteção das Floresta, especialmente a Amazônica,
afinal, a mesma presta fantásticos serviços ambientais. No entanto, essa
floresta abriga diversidade faunística excepcional, bem como frutos e outros
que podem ser utilizados de forma econômica, sustentável, como o látex, da Hevea brasiliensis, o cacau, da Theobroma cacao e
a castanha-do-pará, da Bertholletia
excelsa. Portanto, essa floresta deve e precisa ser preservada, seja por
meio de políticas públicas ou implantação e aplicação de fato da legislação.
Devemos, minimamente apoiar ações públicas e privadas de combate ao
desmatamento e incentivar ações de plantio e preservação de florestas.
Patrique
Savi - Engenheiro Ambiental
e Sanitarista - Egresso da Universidade do Contestado (UnC). E-mail:
patrique_savi@hotmail.com.br.
Dr.
Jairo Marchesan. Docente do
Programa de Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Regional e do Programa de
Mestrado Profissional em Engenharia Civil, Sanitária e Ambiental da
Universidade do Contestado (UnC).
E-mail: jairo@unc.br.
Pensando Bem - Grupo de Estudos Sandro Luiz Bazzanella - RIOS VOADORES: A INTERAÇÃO ENTRE FLORA E ÁGUA!
ARTIGOS - TEMPOS DE INDIGNAÇÃO