Estiagens: conhecer e conviver
Dr. Jairo Marchesan - Docente do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UnC). E-mail: jairo@unc.br
A severa estiagem que afeta
grande parte do Sul do Brasil, inclusive a maior parte do Estado de Santa
Catarina, é decorrente principalmente de fatores exógenos ou distantes da
região, dentre os quais a dinâmica das escalas atmosféricas na esfera global, o
resfriamento das águas do Oceano Pacífico, denominado de La Niña, bloqueios
atmosféricos que inibem a passagem das frentes frias de ar, dentre outros. Mas,
também, está associado às intervenções antrópicas, bem como a ausência de
políticas públicas consistentes, amplas e contínuas. No entanto, por vezes,
quando há políticas públicas, são aquelas que incentivam e favorecem a produção
do risco e vulnerabilidade e na potencialização dos desastres ambientais, como
no caso das estiagens. Numa escala regional, a falta ou carência de vegetação
também pode impedir o processo de evapotranspiração, além da pouca umidade dos
solos, que impedem a evaporação para a formação de nuvens. Esses fenômenos e
fatores interferem na redução ou em baixas precipitações pluviométricas
(chuvas) regionais. Esta estiagem está impactando significativamente e
negativamente nas atividades econômicas, principalmente para alguns setores
industriais, nos processos de produção e dessedentação animal e, também, em alguns
casos, implicando sobremaneira no abastecimento urbano. Aliás, no Estado de
Santa Catarina, por exemplo, a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (CASAN)
está solicitando à população o uso racional da água e, em alguns casos,
implementando mecanismos de racionamento. De maneira geral, pode-se dizer que a
sociedade humana - de modo geral -, não aprendeu suficientemente com eventos
anteriores e recentes. Por isso, se diz que a sociedade “tem memória curta”
frente aos recorrentes eventos, afinal, já conviveu com períodos recentes de
poucas chuvas (estiagens), assim como o conhecido fenômeno da falta de água no
estado e mais especificamente na cidade de São Paulo. Percebe-se na sociedade a
falta da constituição de uma consciência de lembranças ou da cultura de conhecer
e reconhecer os fenômenos climáticos, bem como a importância do cuidado de
gestão, de uso racional das águas, de convivência com eventos como este, que,
seguramente, não será o último. Evidentemente, o enfrentamento e a convivência
com uma estiagem como esta, requer
que o Estado, por meio de políticas públicas, atue como protagonista,
articulador e indutor de amplos, consistentes e contínuos planos estruturais e
também de políticas públicas permanentes para a implementação de ações de
curto, médio e longo prazos que visam o armazenamento de água no solo e que, consequentemente,
também influenciará na quantidade das águas superficiais. Por outro lado, as pessoas,
no âmbito privado, mas, sobretudo o coletivo da sociedade, necessita constituir
uma agenda, planejamento e ações permanentes de cuidado com as águas. Tais
ações podem e devem ser implementadas, como por exemplo, o incentivo às boas
práticas agrícolas de uso e manejo dos solos; do aproveitamento das águas de
chuva nos espaços urbanos e rurais; de preservação da vegetação nativa onde for
possível, mas, principalmente em Áreas de Preservação Permanente (APPs), –
afinal, a vegetação, especialmente as matas, são uma das grandes “caixas
d’água” da natureza; executar mecanismos ou processos de retenção e de
infiltração de águas no solo, como possibilitar a drenagem de águas de chuvas e
dos telhados, para que infiltrem nos solos; de preservação dos banhados –
afinal, estes, além de possibilitarem a reprodução de espécies aquáticas, são
verdadeiras “esponjas” de retenção de água e que a liberam gradativamente para
as nascentes, fontes ou rios; que nas propriedades rurais haja planejamento da
produção, ou seja, alojamento de animais de acordo com a disponibilidade de
água; recuperação e preservação de fontes superficiais e de poços escavados,
dentre outras ações. Na mesma direção, as Companhias de abastecimento público precisam
localizar, avaliar e executar mecanismos de retenção ou de armazenamento de
águas, por meio de barragens nos rios onde captam a água, para disponibilizá-la
com maior regularidade e segurança à sociedade. Por isso, os governos, mas,
também a sociedade, precisam rever, reavaliar e reposicionar concepções e,
principalmente, práticas com as águas, inclusive de convívio com eventos como
as estiagens.
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